quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O Outro.

_"Meu Deus, dessa vez foi quase!"
Deitado ao lado de sua esposa, Eugênio sentia pouco a pouco o corpo gelar em virtude do alívio que experimentava após tão perigosa aventura. Apesar de estarem tornando-se cada vez mais comuns suas escapadas, sempre lhe sobrava um sentimento de pânico. Apenas a satisfação sexual o levava a querer mais e mais.
Ajudado inconscientemente pela esposa, agora já dependendente dos remédios para dormir, ele agora podia relaxar e esperar o sono chegar. Julgava-se cada vez mais experiente na arte do adultério.
_"Isso é loucura! Se qualquer dia a merda desses remédios não fizer o mesmo efeito e ela acordar, posso ser pego em flagrante! Mas, como resistir a ele? Como não sentir todos os dias sua boca quente e seu corpo tão sedutor? E também, a culpa é dela... Se pelo menos cumprisse com seu papel de esposa, eu não precisaria me aliviar no seu irmão."
Perdido em seus próprios pensamentos, sentiu o sono aproximar-se. Agora dormiria satisfeito após o perigoso encontro sexual com seu cunhado.
No quarto abaixo do de Eugênio, descendo a escada que conduz ao primeiro andar, Romeu banhava-se para depois ir a cama. Devaneando frente ao espelho, penteava os cabelos loiros, ainda sentindo no corpo o cheiro de seu amado que nem mesmo a água arrancara dele.
_Acho que finalmente ele descobriu que gosta de mim! Se amanhã vier fazer amor comigo de novo, eu o beijarei.
Ao deitar-se, relembrou com minúcia de detalhes todo o interlúdio amoroso. Nada escapava-lhe da memória: O toque bruto e firme que com o passar do primeiro ano veio a tornar-se mais carinhoso e gentil, os movimentos do sexo que de violentos passaram a delicados e lentos, o que antes não passava de arfar em seus ouvidos, transformara-se em lambidelas e beijinhos no pescoço e, o que antes era quase que total silêncio, virara declarações de afirmação da sensualidade de seu corpo.
"_Ele disse que a cada dia eu me tornava mais gostoso, que meu bumbum e minhas pernas estavam a cada dia mais arredondados. Hoje ele foi tão carinhoso que quase não senti dor. Tenho certeza que estou conquistando seu coração.
Adormecendo em sorrisos, esperou ansiosamente que amanhecesse para poder vislumbrar o rosto de seu amado.
Como em todas as outras manhãs que sucediam os encontros noturnos, na mesa ambos portavam-se como se nada houvesse de mais íntimo entre eles. Não que temessem o fato de Romeika descobrir algo, já esta encontrava-se quase que completamente alheia ao mundo depois da perda da única filha ainda em seu ventre, mas pelo simples fato de Eugênio manter-se sempre distante quando na presença da esposa. Era como se os dois apenas pudessem entregar-se a luxúria do real envolvimento existente quando não houvessem testemunhas.
Para Eugênio, qualquer mínima suspeita vinda de Romeika seria motivo para que ele próprio cuidasse para que o jovem Romeu encontrasse outro lugar para morar, jogando assim a sujeira para baixo do tapete. Já para o apaixonado Romeu, chegaria o dia em que disputaria de igual para igual o amor de Eugênio com Romeika, e com toda certeza em sua concepção, ele venceria.
_Eugênio querido, leve Romeu até a escola tá?
Dentro do carro, Romeu pensava em como passar o dia longe de seu amado e, já ansioso, tecia sonhos para a noite que teriam aquele dia.
_Acho que se ficarmos nessa parte do estacionamento não poderão nos ver. Ainda está muito cedo e poucos chegaram.
"Ela não passa de uma sonsa! Como pode não querer um homem como ele? Em que mundo minha irmã vive?" Pensava Romeu enquanto Eugênio manobrava o carro até a vaga mais distante e escondida do estacionamento da escola, embaixo de uma grande árvore.
_Vamos Romeu, chupa que, com o tesão que tô aqui, eu gozo rapidinho.
Já desabotoando a calça, nem mesmo olhava para o cunhado. Eugênio adorava situações como esta. Transar dentro do carro fazia disparar sua adrenalina e o tesão em si era tanto que não demorava a ter prazer.
_Vai vir me ver hoje?
Olhos brilhantes, Romeu já masturbava Eugênio.
_Vamos Romeu! Sabe que temos pouco tempo... Não podem nos ver aqui.
_Apenas responda, quero você hoje.
_Tudo bem, tudo bem! Sabe que irei! Agora começa logo com isso!
Menos de dez minutos depois, Eugênio ultrapassava os portões da escola.
Caminhando para a sala de aula com um sorriso satisfeito no rosto, Romeu ensaiava as falas da noite:
_Direi que o amo e ele vai me olhar nos olhos segurando em meu queixo. Logo dirá que também me quer e junto pensaremos numa forma de viver nosso amor. Depois de nosso primeiro beijo, serei seu para sempre.
O dia demorou a passar para o jovem Romeu, mas foi exaustivo e maçante para Eugênio.
Banho tomado, Eugênio esperava ansioso para que Romeika mergulhasse em sono profundo, porém esse momento não chegava. Vestida em sensual camisola, a esposa saiu sorridente do banheiro.
_O que houve meu amor? Não encontrou seus comprimidos?
_Não os tomei hoje Eugênio, não quero dormir.
_Querida, sabe que tem pesadelos a noite.
_Não se preocupe, hoje quero apenas ser sua. Abdiquei por tempo demais de minha vida e sei que está triste e insatisfeito comigo... A partir dessa noite voltarei a ser a Romeika de antes, eu prometo.
Envolto nos braços e pernas de sua esposa, Eugênio sentiu reacender o fogo da paixão. Romeika parecia tomada de um desejo latente há muito guardado. Em um jogo de toques e gemidos, mal conseguia comparar aquela que com maestria conduzia o sexo à outra que passava o dia todo olhando o vazio, entorpecida por remédios.
Estranhando a demora de seu amado e munido de coragem ímpar, Romeu subiu a escada e foi até a porta do quarto de Eugênio. A poucos metros, já se faziam ouvir os sons do deleite sexual do casual.
_Isso Eugênio... Me dá tudo que perdi por tanto tempo... Me faz sua outra vez...
_Ah, Romeika! Como te amo! Não há ninguém em todo o mundo que eu ame e deseje mais! Quero você para sempre meu amor... Para sempre!
Era como se uma faca afiada perfurasse sua barriga dezenas de vezes. As lágrimas vieram convulsiva e instantâneamente. A dor do abandono abateu Romeu de tal forma que suas pernas bambearam e ele quase caiu no corredor. Tentando recompôr-se, respirou fundo e caminhou até seu quarto.
Derrotado, a escada parecia um obstáculo grande demais a ser vencido.
Chegando finalmente ao quarto que agora serviria-lhe de exílio, fechou a porta, silenciando como que para sempre os ecos silenciosos do amor um dia ali vivido.
Mesmo como a manhã chuvosa, Romeika acordara sentindo-se disposta e pronta para recomeçar a vida. Ter tomado a atitude de abandonar os remédios não só trariam de volta o amor de Eugênio como fariam com que ela pudesse aproveitar mais ainda a companhia do irmão mais novo, que agora seria quisto como um filho.
Não querendo perder minuto algum de sua nova vida, correu ao quarto do irmão para contar-lhe a boa nova. Saberia que sua nova aparência por si só seria uma enorme surpresa.
Foi com um grito de horror não contido pelas mãos em sua boca que Romeika fez com que Eugênio descesse quase que correndo a escada, parando frente a porta do quarto de Romeu, tentando em vão levantar a esposa em choque do chão.
Pendurado pelo pescoço por um cinto, o corpo do cunhado e amante jazia inerte, envolto na cinzenta e fria mortalha da solidão.


Um comentário:

  1. OMG Erick

    Lindo lindo lindo

    Envolvente, tragico, eu fiquei preso do começo ao fim.

    Beijo bem grande!

    ResponderExcluir